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A viagem do herói.
Inspiração: Campbell, Joseph (1949): The Hero of a Thousand Faces. |
Joseph Campbell criou um esquema universal da estrutura dos mitos, mostrando nele a viagem do herói. Baseando naquele esquema inventei um esquema novo que mostra a viagem do protagonista d'Os Cus de Judas.
No meu esquema existe uma divisão do mundo para o conhecido e o desconhecido, mas compreendo-os diferentemente do que o autor do esquema do ''monomito''. Para mim o mundo conhecido é ao mesmo tempo somente uma imagem da realidade que está na mente do protagonista. O regime salazarista e os ideais da família criaram o mundo do protagonista d'Os Cus de Judas, que antes da sua viagem acreditava que a luta em África foi precisa e que a experiência deste tipo vai torná-lo num homem verdadeiro.
Queria sublinhar ainda que tudo o que nos rodeia tem um impacto grande na nossa visão do mundo. Por isso por exemplo mesmo quando algém está contra o regime político em que vive, esta situação sempre o influencia. O mesmo acontece com a família, os amigos, os mídia - o homem não é impermeável, por isso cada pessoa tem a sua visão do mundo diferente, e não se pode dizer qual delas é a mais verdadeira. A realidade pura fica sempre desconhecida.
O protagonista d'Os Cus de Judas decide deixar o mundo conhecido, ou, melhor, a sua idea do mundo conhecido, e viajar para a África. O começo da viagem é o início das transformações da sua psíquica, e o protagonista chega ao ponto de abismo (quando chega à África, reconhece a situação e fica desiludido, porque os seus ideais tornam-se inválidos). É por isso que marquei este ponto como a ''Desilusão'' (a inspiração foi o esquema da Ola Józiak).
Este momento em que o protagonista compreende que o mundo em que acreditava era falso, é o ponto para as transformações da sua psíquica se tornarem mais rápidas e profundas. Para mostrar a importância destas mudanças, dei no esquema um exemplo: o protagonista já não é capaz de distinguir o que é bom e o que é mal, porque o mundo de todos os seus ideais se tornou nulo.
A confusão que sente o protagonista leva o ao ponto em que as transformações da sua psíquica se tornam fixas. Estabelecem-se na sua cabeça permanentemente, porque o protagonista nunca mais vai ser capaz de acreditar de novo nas suas crenças anteriores por causa da experiência contrária.
Quando regressa da África, é um homem diferente. Há um trecho que mostra bem as dificuldades que ele encontra em Portugal depois da guerra, quando há uma briga entre ele e as pessoas, quando ele se sente como um animal feroz, e uma mulher diz-lhe que todos que voltam da guerra são como ele: bárbaros e sem civilização.
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o discurso |
Outro fragmento diz que o protagonista não acredita mais na realiadde que o rodeia, e observa os vizinhos felizes e inconscientes quando abrem as portas nem pensando que estas casas poderiam não pertencer a eles. Tudo para eles é óbvio e natural - assim como era o mundo do protagonista antes da sua viagem. Ele, quando regressa, pode somente tentar viver duma forma considerada como normal, mas as inquietações nunca lhe vão permitir atingir o ponto da paz em que viveu antes da partida.
Para o esquema não ficar muito complicado, decidi fazer um esquema mais detalhado do discurso. A linha recta é a mesma que vai no grande esquema (desde o regresso até o futuro). Queria mostrar aqui que o protagonista tenta atingir o nível da paz anterior, fazendo várias relações com o mundo da arte que conhece, e que lhe parece mais estável. Infelizmente, as suas tentativas nem sempre o levam mais perto da paz interna, porque às vezes a sua raiva muito visível ainda mais o inquieta, como no caso descrito aqui. Em outros casos, como já tinha mencionado várias vezes, a sua escrita e as invocações das obras de arte conhecidas são para ele como uma terapia.