08/11/2010

Os Cus de Judas C - Padrões desmistificados

Padrão de descobrimentos
Na época dos Descobrimentos os Portugueses tinham o hábito de marcar de forma visível as terras achadas. Inicialmente (1415 - 1460) usavam cruzes feitos de madeira, depois começaram a colocar o símbolo da cruz nas rochas, e finalmente formou-se um tipo de padrão feito de rocha, que tinha forma de uma coluna com cruz em cima, e que levava em si todos od símbolos de descobrimentos. (fonte). Os padrões de descobrimentos funcionam como um dos símbolos de Portugal. Mas a visão do protagonista perante os padrões é negativa. Segundo ele, os Portugueses não levam nada positivo para as terras que descobrem, ou, mais propriamente dito, que conquistam. Trazem somente a guerra, e causam nojo, porque são assim: no espelho podem ver somente o escarro.
«Em toda a parte do mundo a que aportamos vamos assinalando a nossa presença aventureira através das padrões manuelinos de latas de conserva vazias, numa subtil combinação de escorbuto heróico e de folha-de-flandres ferrugenta. (...) Sempre apoiei que se erguesse em qualquer praça adequada do País um monumento ao escarro, (...) algo que contribua, no futuro, para a perfeita definição do perfeito português.»

3 comentários:

  1. Falta aqui uma reflexão tua sobre o que motiva o narrador para falar assim de uma forma tão negativa do país. Mais uma vez, tens de ir além do aflorar ideias, precisas de aprofundá-las para que as possamos compreender melhor. Lembra-te do que já falámos noutro lado, da escrita como terapia, será este um romance-terapia e portanto estas palavras o resultado do processo de tratamento? Esta raiva toda que sai, este desprezo serão factos ou ressentimentos? É sempre necessário que dês a tua opinião, que guies os leitores para aquilo que queres provar.

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  2. O que motiva o narrador para falar assim? Bem, para mim é óbvio que a primeira parte da citação (até os pontos de reticência) vem da experiência do protagonista, ele descreve factos: a presença dos portugueses na África não trouxe nada bom, nada para que seria necessário erguer monumentos, ao contrário: eles trouxeram guerra, dor, raiva e desprezo.

    Desta experiência resulta o seu pensamento amargo descrito na segunda parte da citação. Mas a raiva do protagonista é tão forte, que não posso imaginar este fragmento como terapeútico. Para mim este fragmento mostra até a atitude destruidor dele, porque ele é português e despreza-se dizendo que a definição de um português é um escarro. Ele tem nojo da sua pátria e de si próprio. Como dizem os psicólogos e pedagogos (um exemplo pode ser professor Wielochowski), a raiva e o ódio a si próprio na maioria dos casos leva às doenças psíquicas...

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  3. Acho que a sua reflexão também vem do seu conhecimento histórico. O património português pode ser visto no livro de G.Freyre
    ''Casa grande e Senzala''. Também o narrados de OCdJ apresenta-nos o que os protugueses levaram consigo para Angola ou melhor o que lá apresentaram. Os monumentos em vez de representar valores positivos tornaram-se monumentos da degradação humana causada pela guerra, pela nostalgia e deslocação involuntária do lar.

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