17/01/2011

Os Cus de Judas - reflexões finais

Para resumir as minhas impressões do livro ''Os Cus de Judas'', queria lerembrar aqui vários assuntos que toquei, e também pensar qual é o tema principal do livro.
Uma das características deste livro que mais me inspirou, especialmente no início da leitura, foi a existência de inúmeras relações às obras de arte, que tentava explicar como uma parte da terapia de que o protagonista precisa para voltar à uma vida mais ou menos normal depois de experiência dura da guerra em África. Referindo-se às obras de arte, belas e imutáveis, tenta acreditar de novo na existência da beleza no mundo, e também na existência de valores universais, que ele perdeu por causa da guerra.
Uma outro parte desta terapia seria o acto da escrita.
Mencionei também a importância das lembranças da infância: do Jardim Zoológico e Portugal dos Pequeninos, que podem significar saudades dos tempos passados, felizes porque a guerra ainda não aconteceu. E os tempos que ele descreve depois: a realidade da guerra e depois dela, são mostrados de ponto de vista negativo. Ao contraste com as obras de arte, é sublinhada a feiura, podemos encontrar descrições turpistas, porque assim o protagonista vê o mundo, sob o prisma dos acontecimentos horríveis nos quais tomava parte. Finalmente, fiz algumas comparações do livro ''Os Cus de Judas'' e outras obras literárias, de Proust e de Orwell; neste segundo caso sublinhei as referências à política e à história.
O que me parece mais importante, é o facto da mudança do caráter e da psíquica do protagonista que ocorreu durante a guerra. Isso foi mostrado no esquema da viagem do heroi, que é diferente das viagens que os heróis costumavam fazer nas obras antigas e clássicas. Para mim estas mudanças são o tema principal do livro; mais: em volta delas é construida toda a trama.
Foi a experiência da guerra que obrigou o protagonista a contar a sua história. Tentando encontrar uma terapia para voltar ao estado anterior da sua alma (ao estado da paz e normas morais fixas), fez muitas referências às obras de arte para equilibrar a feiura do mundo que ele começou a ver (o que podemos ver nas suas descrições turpistas). Também para lutar contra esta feiura lembra os tempos da infância, cheios da paz e felicidade - é por isso que ele conta os pormenores do Jardim Zoológico.
Assim eu leio este livro. Não digo que isso seja uma interpretação correcta, porque não sou um crítico nem tenho o conhecimento da literatura tão amplo. Mas, para mim, o livro trata nomeadamente da destruição que um acontecimento horrível pode fazer: o protagonista, por causa da guerra, ficou morto mesmo que sobreviveu. Mas morreram os seus ideais, morreu a sua alma - pelo menos eu vejo isso no seu dor profundo e na sua incapacidade de continuar a viver. Morreu a sua esperança e toda a sua vida anterior que agora lhe parece irreal. deste modo o protagonista tornou-se num homem sem futuro nem passado. Esta realidade pode fazer enlouquecer. Não tenho certeza, mas pode ser que ele já esteja um louco a contar a sua história à uma amiga imaginária... 

Sem comentários:

Enviar um comentário